Censo mostra que maioria da população de rua não bebe ou usa drogas

Moradores de rua sofrem com a falta de atenção do poder público
Foto:  Severino Silva / Agência O Dia

Levantamento da Defensoria Pública vai guiar ações de apoio, como emissão de documentos
PALOMA SAVEDRA
     Rio - Moradia, saúde e educação são alguns direitos sociais a que, pela Constituição Federal, todos deveriam ter acesso. Mas nas ruas a realidade é bem diferente.
     Para fazer valer o que se lê, o Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado realizou censo na região metropolitana do Rio, traçando o perfil dessa população, e criando frentes para que ganhe cidadania.
      O estudo derruba mitos: dos 1.247 entrevistados em 32 abrigos públicos e privados, 62% não usam drogas; 65% não bebem; e só 13% são analfabetos.
     Denúncias de ilegalidades nas ações de acolhimento da Prefeitura do Rio também foram constatadas pelo Projeto População de Rua, que começou em dezembro com apoio do Ministério do Trabalho.
     Para a defensora pública Juliana Moreira, os resultados parciais do estudo, que serão apresentados oficialmente amanhã, se opõem à política do município: “A prefeitura está tirando pessoas das ruas considerando-as usuárias de drogas. Há relatos de pessoas que tiveram documentos rasgados nas abordagens”, disse. 

     Além disso, o Censo aponta para um grave problema: a falta de registro civil. A ausência de documentação impede o acesso a políticas sociais: “Muitos dos cadastrados que não têm documentos têm filhos, e estes não podem se matricular em escolas por isso. Essas pessoas também são privadas de atendimento em hospitais, pois sem documento não entram”, relatou a defensora.
     Para erradicar esses fatores de exclusão, a Defensoria criou convênio com o Tribunal de Justiça para agilizar emissão de documentos, e com o Ministério do Trabalho: unidades móveis vão até abrigos para fazer a Carteira de Trabalho dos grupos.
     Em relação à saúde, a Defensoria pediu que as secretarias municipal e estadual criem protocolo diferenciado para essa população. Também investiga a Internação Compulsória feita pela prefeitura.

Cadastro único é criado

     O Censo criou cadastro único dessa população. Segundo a Defensoria, esse público é volátil e os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde não computavam o número de pessoas, mas o de vezes em que eram abrigadas.
     Desemprego, migração, enchentes, violência doméstica, alcoolismo, dependência química e pendências judiciais são alguns fatores que colaboram para a situação de rua. Dos 1.247 atendidos, 4.630 são do Rio e 784, de outros estados. Desse total, 976 possuem renda, e 496 têm Ensino Fundamental incompleto.
     A defensoria criou canal para denúncias de ilegalidades nas abordagens:denunciasnudedh@dpge.rj.gov.br .

FONTE: O DIA ON LINE

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